• 10 de abril de 2020
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Funcionária de hospital em São Luís denuncia que profissionais estariam sendo confinados junto de pacientes com suspeitas de contaminação por coronavírus

Tem crescido em São Luís, o número de profissionais de saúde que estão sendo afastados de suas funções por contágio ou suspeita do novo coronavírus. A informação é confirmada pelo Conselho Regional de Enfermagem, que destaca a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) como um dos principais motivos para os contágios.

Com medo de retaliações, os médicos e outros profissionais enviam as denúncias aos sindicatos, que já contabilizam diversos relatos desde o início da pandemia.

O Conselho Regional de Enfermagem do Maranhão (Coren-MA), por exemplo, recebeu 29 denúncias de profissionais relatando a ausência desses equipamentos.

As ocorrências referem-se a falta de EPI’s nas em unidades de saúde de São Luís e também do interior do estado. Entre as principais denúncias está a falta de máscaras N95, toucas, aventais e álcool em gel.

Em meio ao temor de contagio dos profissionais de saúde, um dos que mais sentem na pele o risco de ser infectado pelo coronavírus, são os técnicos de enfermagem.

Foto de técnicas e enfermeiras de uma policlínica em solidariedade a morte de uma colega de trabalho, vitima do coronavírus.

O temor dos profissionais aumentou nesta semana após a morte de um homem de 47 anos, que era funcionário do Hospital Municipal Djalma Marques, o Socorrão I. Ele morreu na madrugada desta terça-feira (7). A suspeita é de que ele teria sido infectado pelo vírus no hospital onde trabalhava, segundo os familiares.

A vítima teria recebido um atestado de 15 dias e foi afastado do serviço. Ele chegou a ser internado em um hospital da capital no dia 29 de março, após ter apresentado sintomas mais graves de gripe. Diante disso, foi recomendado que a família também ficasse em isolamento domiciliar. Mesmo sendo hipertenso e diabético, fazendo portanto parte do grupo de risco, o profissional continuava trabalhando normalmente no Socorrão I.

Denuncia

 É fato que neste momento de enfrentamento da COVID 19, o maior grupo de risco são os profissionais de saúde, mas isso pode ficar ainda pior, é o que relata uma funcionária do Hospital Guarás, em São Luís, ao denunciar que técnicos de enfermagem estão sendo submetidos a situações de extremo risco, no tocante ao risco de contaminação.

A funcionaria, que preferiu manter sua identidade em sigilo, por medo de represálias, afirma que no referido hospital, os profissionais do setor de enfermagem, estão sendo obrigados a permanecer confinados por um período de 12h – duração de um plantão –  junto de pacientes que estão com suspeita de COVID 19. “Neste ambiente de confinamento junto com pessoas suspeitas de contaminação, nós temos que fazer nossas refeições, não há repouso em local distinto assim como existe para os médicos”

A denunciante vai mais além e dia que até mesmo os capotes fornecidos são de TNT, e não impermeáveis, como recomenda o Ministério da Saúde. “Nós dividimos o mesmo banheiro, e temos de trocar as nossas roupas neste ambiente, ou seja, somos expostos de forma exagerada ao risco de contaminação”, relata a funcionária.

Para a denunciante, o problema é muito grave, pois segundo ela, também há falta de EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) adequados e na quantidade certa para os funcionários. Ela ainda afirma que a máscara tipo N95, é entregue ao funcionário para que ele utilize por 15 dias, sendo que o mesmo precisa levar para casa, e trazer no próximo plantão. “o risco que nós da área de saúde somos expostos é enorme, e com estes agravantes, aumenta muito mais o risco de sermos contaminados. Muitos de nós tem família, crianças, idosos, e sendo expostos dessa forma, nós podemos estar sendo contaminados e levando a contaminação para dentro de nossas casas”, lamentou.

Medo

É uma tragédia que vem se repetindo nos vários países onde o vírus se espalhou. Vimos esses relatos na China, na Itália, na Espanha, nos Estados Unidos. Agora, com a curva epidêmica do coronavírus se acentuando, esse drama bate na porta dos profissionais maranhenses.

Profissionais da enfermagem estão em com medo. Denunciam falta de material mais específico para lidar com os pacientes com o coronavírus – que possuem uma carga viral até mil vezes maior que um paciente com H1N1, por exemplo. Há quem pense em abandonar a profissão.

A falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) que ajudem a proteger os profissionais é a principal queixa. E não se trata apenas de máscaras e luvas. Capote impermeável, óculos, protetor facial, sapato fechado impermeável e lavável, dizem os técnicos ouvidos pela reportagem, só são vistos nos hospitais quando são adquiridos pelos próprios profissionais.

À flor da pele

Uma técnica de enfermagem da rede estadual, que não quis se identificar, alertou para o alto grau de estresse em que se encontram os profissionais. “Estamos com o emocional à flor da pele. Muitos estão adoecendo psicologicamente também. Minha família está em pânico. Saímos para trabalhar e não sabemos se voltaremos. Fico com medo também de infectar minha família. É uma angústia enorme, e não só sou eu, falo por todos os meus colegas”, diz.

Com alto risco e na linha de frente

“Quando alguém morre, se solta uma nota depois e se justifica: “ah, mas a paciente que faleceu tinha comorbidades, era diabética, era hipertensa”. Elas sempre tiveram (doenças crônicas)! E trabalharam na emergência e se dedicaram e cuidaram de pessoas. O que revolta é a falta de EPIs adequados. Quantas de nós iremos ser vítimas disso?”, reclamou uma outra técnica em um desabafo que circulou pelas redes sociais.

A situação se repete em parte da rede privada. “O profissional técnico de enfermagem raramente trabalha em um local só. Ele tem dois, três empregos. A contaminação que ele pega no estado, leva para o privado”, é o que revela uma técnica que trabalha em dois hospitais de São Luís.

Nota do Conselho Regional de Enfermagem

Em nora enviada à reportagem pela assessoria de imprensa do COREN (Conselho Regional de Enfermagem – MA), Antônia Cristiane Souza Padilha, conselheira regional e secretária da Junta Interventora do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) no Conselho Regional de Enfermagem do Maranhão (Coren-MA), afirmou que “aos profissionais que participarão de atendimento de casos suspeitos, deve ser ofertado treinamento adequado sobre técnicas de precaução padrão. Eles devem utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPI). É importante que estar disponível álcool gel 70% para higienização das mãos, além de água e sabão. Deve-se também ser observada a limpeza com frequência das superfícies, equipamentos, estações de trabalho e áreas de contato coletivo”, finalizou.

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